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Foto do escritorYasmin K.

Fotos suas

Atualizado: 26 de ago. de 2022


A insônia me presenteia com uma visão singular a cada noite. Vejo seu rosto iluminado pela luz difusa da janela ultrapassando a cortina fina que colocamos na esperança de combater a luz do alvorecer. Toda noite, quando deitamos para dormir, faço questão de encher minha mente de pensamentos inúteis para que eu possa adormecer mais tarde. Penso sobre cores não inventadas, sabores que nunca senti, lugares que nunca fui, até ouvir a respiração distinta que aguardo todos os dias.


Você respira diferente, sinalizando o início da fase 1 do seu sono. É meio maluco pensar que eu dormi todos esses anos sem poder observar você adormecer. Observo sua cabeça pesar no travesseiro e percebo seus olhos vibrarem como um celular com notificações. Me pego pensando o que você está sentindo ou o que sentiu durante o dia e não me contou. Se alguém te disse algo ou te fez sentir algo que adiasse seu sono em alguns minutos. Me pego pensando se já te disse algo que te tirou o sono. Provavelmente.


Um tempo depois, você faz pausas maiores na respiração, percebo que entrou no sono mais profundo, e começou o seu descanso. Invejo sua facilidade em adormecer, e você sabe bem disso. Sabe também que me saboto com café. Acho que você não faz ideia da vantagem que ganho ao beber café às cinco da tarde, e da minha lerdeza em metabolizar esse líquido milagroso. Eis a minha vantagem, poder capturar suas expressões faciais em arquivos e gavetas na minha mente, enquanto você adormece.


Brinco com meus olhos e desfoco eles como se realmente tirasse fotos. Não é maluquice o que eu disse. Certa vez li que se cada conexão entre neurônios fosse um byte, o nosso cérebro seria um computador de, pelo menos, um milhão de gigabytes. Se você estivesse acordado agora poderia me explicar a parte técnica disso, como eu sei que você adora fazer. Tenho certeza que meu cérebro é um computador repleto de fotos suas. Fotos nessa luz difusa que te vejo agora, e que dura tão pouco, pois logo o sol vai arrebentar essa janela sem pedir licença.


Enquanto a bateria sinaliza estar fraca, a lente embaça com o calor do quarto fechado. A memória disponível está acabando, e uma gatinha se aconchegou entre nós. Acho que é minha vez de fechar os olhos e ser iluminada pela luz dourada da janela. Com você.







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